Porto

Porto
"Quem vem e atravessa o rio, junto à Serra do Pilar, vê um velho casario que se estende até ao mar. Quem te vê ao vir da ponte és cascata sanjoanina erigida sobre um monte, no meio da neblina, por ruelas e calçadas, da Ribeira até à Foz, por pedras sujas e gastas e lampiões tristes e sós. Esse teu ar grave e sério dum rosto de cantaria que nos oculta o mistério dessa luz bela e sombria. Ver-te assim abandonado nesse timbre pardacento, nesse teu jeito fechado de quem mói um sentimento... e é sempre a primeira vez, em cada regresso a casa, rever-te nessa altivez de milhafre ferido na asa." - Carlos Tê

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Pequenos gestos

É um lugar comum, mas é um lugar comum delicioso. Os pequenos gestos que nos enchem de uma sensação quente e forte, nos tornam gigantes num mundo por si só já grande, nos adormecem e excitam simultâneamente. Pequenos gestos como um telefonema quando pensas que é impossível, um "gosto de ti" quando não estás à espera, um carinho quando não tens coragem de reclamar, um "não chores mais" quando o fazes em silêncio... "simplesmente amor."
Não sei nada da alma dos outros, mas sei que há almas em que vale a pena confiar... e cuidar. E sei, sinto que a minha alma cresce quando tudo isto acontece.

"Certas palavras podem dizer muitas coisas;
Certos olhares podem valer mais do que mil palavras;
Certos momentos nos fazem esquecer que existe um mundo lá fora;
Certos gestos, parecem sinais guiando-nos pelo caminho;
Certos toques parecem estremecer todo nosso coração;
Certos detalhes nos dão certeza de que existem pessoas especiais,
Assim como você que deixarão belas lembranças para todo o sempre."
Vinicius de Moraes

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A THING CALLED LOVE by JOHNNY CASH

Houve a noite, houve o mar e houve o desejo...
Sem que esperasse, ele beijou-a. Ela não resistiu, entregou-se ali, logo de imediato. O olhar malicioso dela foi para ele como que um convite. Ela com a sua inocência de menina já crescida, só pôde sentir o desejo. Ele com a sua maturidade, só soube sentir a ânsia inocente de outros tempos. Que desatino! 
Levou-a para o quarto e ali, ele despiu-a, ela despiu-o e entregaram-se como nunca antes o tinham feito. Naquele momento ela desejou pertencer-lhe, fazer das suas vontades uma ordem, agradá-lo, presenteá-lo, obedecer-lhe. Encaixaram-se na extravagância dos movimentos e na simplicidade do toque, do olhar. Envolveram-se em fervor. Ele suscitou nela gemidos, despertou todos os seus sentidos.
E naquela noite foram um só, deixaram o Homem possuir a Mulher, a Mulher sentir o Homem... Soltaram fantasias. Os sentidos tornaram-se matéria-prima que os outros nunca saberão adivinhar. A emoção foram um e outro. Eles amaram-se e compreenderam-se. Ele será eterno dentro dela.
E não foi possível dar um nome àquele instante, àquela noite e ao que aconteceu durante... talvez tenha sido a explicação da vida.
Falo mais nela do que nele, pois consegui ver a alegria do viver e a tristeza da saudade nos seus olhos, no seu rosto, pude sentir tudo isso no seu corpo, na sua alma e no seu espírito.
Viveram uma outra vida, onde os levou o ensejo de ultrapassarem a carne.
Ficou-lhes na boca o desejo de mais se conhecerem, de mais se envolverem.
No final houve o mundo... E ela aguardou com lágrimas que os dias passassem, dias que, por amor, foram o testemunho da negação da sua mais íntima e pura essência: a de viver o momento presente, o hoje sem a preocupação do amanhã, a mais pura felicidade perante a incerteza do que virá, bom ou mau.
Tiveram asas, mas não souberam voar.

Elogio ao Amor

“Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.
O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em “diálogo”. O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam “praticamente” apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do “tá bem, tudo bem”, tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida,o nosso “dá lá um jeitinho sentimental”. Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.
O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A “vidinha” é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.
O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.”


Miguel Esteves Cardoso in Expresso

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Pearl Jam-Black



Acabei de rever todo o meu blog e é impressionante como algumas coisas deixam de fazer sentido depois de tudo! Não que eu seja uma inconstante, mas será possível encontrar alguém, que à partida nada tem a ver contigo e quando digo isto é porque não tem mesmo nada a ver contigo, e passadas poucas horas já não consegues viver bem sem o seu cheiro e o seu sabor? Como se fosse mel na minha língua... Sim, eu adoro mel.
Nunca consegui entender a distância entre um homem e uma mulher, muito menos agora. Eu sei que é errado. Tivesse ficado e a noite seria o bastante...
Também sempre achei que podia fugir do amor e que, se fosse realmente amor, ele me apanharia! Que verdades, que mentiras!!!
Mas a única dor, ou a dor mais terrível de todas era não sentir tudo isto.
Quando a alma quer... ela espera... Por amor, fé, sexo... e medo.
Já passa das 3h da manhã e apenas eu e o meu anjo...