Porto

Porto
"Quem vem e atravessa o rio, junto à Serra do Pilar, vê um velho casario que se estende até ao mar. Quem te vê ao vir da ponte és cascata sanjoanina erigida sobre um monte, no meio da neblina, por ruelas e calçadas, da Ribeira até à Foz, por pedras sujas e gastas e lampiões tristes e sós. Esse teu ar grave e sério dum rosto de cantaria que nos oculta o mistério dessa luz bela e sombria. Ver-te assim abandonado nesse timbre pardacento, nesse teu jeito fechado de quem mói um sentimento... e é sempre a primeira vez, em cada regresso a casa, rever-te nessa altivez de milhafre ferido na asa." - Carlos Tê

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Nine Inch Nails - Head Like A Hole

Que direito?

O que fazer quando a tua vida está demasiado carregada de esforço para viver?
Uma coisa é levares com a merda em cima e ainda assim achares que vale a pena lutar, e por isso vives mais ou menos bem. Outra coisa é não teres força para dar a volta, ou achares que não vale a pena, e por isso, simplesmente desistes. Outra coisa ainda, é achares que queres sossego, deixar andar e simplesmente parares com a luta, o esforço, a vontade, mas não podes. São demasiadas as pessoas que, ou esperam que tu vivas para viverem, ou esperam que sejas tu a dares o alento e o exemplo de vida, ou que sejas tu o hino à vida, ou que sejas tu o escape para as vidinhas de merda e crenças que um dia um guru qualquer de trazer por casa se lhes enfiou no raio das suas cabeças. Terei eu o direito de as desapontar, ou direito à escolha de me deixar morrer? 

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

(O Grito, Edvard Munch)

Vai tudo correr bem...
Vai tudo correr bem...
Vai tudo correr bem...
Vai tudo correr bem...
Vai tudo correr bem... não vai?

domingo, 5 de dezembro de 2010

09 - Saul Williams - Surrender (A Second To Think)

Confia A.

Gostava tanto de poder pegar-te no colo, afagar-te a cabeça e deixar que tudo o que te consome te saísse entre lágrimas e soluços, para no fim te dizer para não te preocupares, que tudo vai correr bem, na certeza que tu acreditarias que tudo vai correr bem. Mas não posso...
... Até posso, mas não é suposto, pelos menos pegar-te ao colo. Mas acredita A., vai tudo correr bem. Acredita que sim. Só assim faz sentido. De tantas vezes que me revolto e me zango a valer com eles e de todas estas vezes, no fim de gritar, chorar e estrebuchar, um sentimento de paz e segurança envolve-me na certeza de que tudo vai correr bem. É sempre assim e não evita que me volte a zangar. Mas é assim, sempre assim... e tudo acaba por correr bem. Confia e deixa rolar...

Be Safe-The Cribs (w.lyrics)



A., amiga esta é para ti e para mim...
Acho que ainda aqui não disse, mas em tom, quase, repito quase, de desabafo: curso intensivo de tolerância e paciência aos domingos à noite!
É incrível que até aquele a quem matas a fome (ou não, se calhar ele nem tem tanta fome assim), te tenta reduzir ao nada e pôr-te entre tantos outros que o olham com indiferença e até com alguma repugnância. Bolas, será que ainda não percebeu que se estou lá, faça chuva (e tem feito imensa), ou faça sol é porque o(s) considero e o(s) vejo como semelhante(s)? Nem mais, nem menos...

The Rascals - Out Of Dreams

O poder libertador do palavrão

Sempre acreditei no poder libertador do palavrão. É que um valente palavrão dito de uma certa forma, na altura certa tem a capacidade de provocar autênticas explosões em mentes humanas! Neste momento, apetece-me encher-te com um chorrilho deles, mas aqui fica apenas este: "Quando deixas de masturbar essa mente e decides foder a vida a sério???" 
Quando era criança e me via em apuros, às vezes até em grandes sarilhos, nunca me preocupava. Apenas confiava... que tudo se iria resolver da melhor maneira. E resolvia-se...
Era suposto estares sempre comigo e nunca me abandonares. Era... não! É! É suposto protegeres-me, não deixares que me façam mal, abraçares-me à noite com as tuas asas de arcanjo.
Pior que o mal de todos os outros, homens e mulheres, é o mal que me fazes ao deixares-me aqui sozinha... Eu luto tanto e sabe-lo melhor que ninguém. Preciso de ti, não tenho forças para tanto. Não, não é suposto tu ires embora... não me deixes.
... Se não estás comigo agora, não te quero nunca mais. Sai do meu corpo, sai da minha alma. Sai do meu corpo, sai da minha alma. Não te quero mais!

Lenine - "É O Que Me Interessa" - Trama Radiola 30/08/09

Nine Inch Nails - All The Love In The World

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O peito arde-me, a respiração falha e os pensamentos voam para aquele lugar...

Jarvis - Dont Let Him Waste Your Time

Eu tenho cancro - parte III

A minha rotina estava estabelecida. Quimio à sexta, sábado, domingo e segunda, dias negros para deixar passar e aguentar à bronca, e terça já estava preparada e capacitada para trabalhar. E assim foi até Outubro. Trabalhei até à véspera de ser operada, a 11 de Outubro, penso eu.
Durante estes dias vivi situações fantásticas e muito tristes, como um sorriso de confiança vindo de um desconhecido ao ver-me careca, admirações e reparos de crianças e adultos, mal formados, coitados, nas salas de espera dos centros de saúde, palavras de alento por parte dos médicos e dos colegas de trabalho, ao apoio incondicional e soberbamente genuíno da família e dos amigos. De facto, e perdoem-me todos os demais, mas a minha vida não teria sido fantástica em dias tão terríveis, se não existisse a família que tenho hoje e os amigos que ainda tenho e faço questão de ter sempre. Tenho de dizer que não houve um dia, uma hora, um minuto que não tivesse alguém do meu lado disposto a viver comigo a minha vida tal e qual ela era e sempre com a consciência da difícil tarefa de a tornar mais leve e alegre. E foram de facto dias de muita felicidade, acreditem, apesar de tudo. Honestamente, orgulho-me de durante estes 5 anos ter tido uma vida o mais normal possível, o mais feliz e alegre possível e acima de tudo o mais preenchida possível, também graças a todos eles.
Lembro-me que na altura não desisti nem desistiram de mim e ainda frequentei as consultas de um médico japonês que me orientou em termos de alimentação e fitoterapia chinesa, contactei várias clínicas no estrangeiro e cheguei a ir a uma consulta à Clínica Universitária de Navarra, em Pamplona. O resumo de todas estas incursões: estava muto bem orientada, diziam.
O grande dia chegou, mas antes disso ainda tive um extremo e triste episódio, travado com o serviço de cirurgia plástica do hospital S. João. Se era lá que estava a ser tratada, obviamente seria lá que seria operada. Foi quando conheci o quarto maravilhoso ser humano ligado à medicina, a ginecologista que me iria operar.
Depois de ter reunido com a cirurgia plástica, chegaram à conclusão que eu tinha todas as condições para fazer a reconstrução imediata do peito. Deram-me esta execlente notícia.
No entanto, por motivos e guerras internas, consoante vim a saber mais tarde e também por falta de escrúpulos, e agora já sou eu que o digo... e repito as vezes que forem necessárias, três dias antes de dar entrada no hospital para ser operada e na última reunião que teria com a esta especialidade, dois médicos horrorosos e sem um pingo de humanidade, disseram-me da forma mais fria que possam imaginar que a possibilidade de recontrução imediata estava fora de hipótese, virando-me as costas logo de seguida e recusando-se a dar-me mais explicações. Ora, eu fiquei completamente na merda, mas ainda assim tive forças para entrar de rompante na sala de reuniões onde quase todo o serviço estava reunido, seguida da minha mãe, que nunca teve papas na língua, e foi o cabo dos trabalhos. Uma cena mesmo muito feia e triste. Lembro-me ainda que a médica cirurgiã que estava destacada para me operar, e que tinha sido dispensada de tal tarefa na mesma altura e com a mesma indiferença com que me disseram que já não ia fazer a reconstrução, até chorou de tanta revolta.
Pois é, se até então o dia mais ansiado era aquele em que finalmente iria tirar o bichinho de dentro de mim, a partir desse dia passou a ser o mais temido.
E agora mandem calar os violinos que ouvem ao fundo, porque aquilo que vou dizer é mesmo verdade e digo-o sem qualquer vergonha. Os anjos existem mesmo! Na véspera de dar entrada no São João, à noite recebo uma chamada no telemóvel de uma médica, o quinto maravilhoso ser humano ligado à medicina que conheci entretanto, que estava de licença no hospital e que tinha ouvido falar no meu caso e como é óbvio, sendo ela um bom ser humano, achou uma barbaridade o que o serviço de cirurgia plástica me fez. E o que ela tinha para me dizer? Que estava disposta e que me iria fazer a reconstrução imediata caso eu estivesse disponível para ser operada na privada, uma vez que ela naquele momento não o podia fazer no hospital. Imediatamente disse que sim e a alegria foi tal que, mais uma vez, desculpem, mas não consigo descrever.
Passados cinco dias, julgo, lá estava eu, preparadíssima para entrar no blobco, mas não sem antes pedir ao meu anjo da guarda, com muita vontade e convicção para me deixar morrer caso não fosse eu ficar curada.